segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

- In verso.


- E eu vi as gotas que caíam. Não, não falo da chuva, e seria estranho se eu o fizesse nesse afastamento indivisível que transforma um em dois. As estrelas caminham para o mesmo rompante que os meus olhos se negam a ver, a receber, a perceber. É como se, por ser como o vento, a força e a leveza inexistentes expulsassem todas as pedras que mais me valiam, que mais me completavam. Mas se você nunca tentar, você nunca saberá. E se eu nunca souber, também não seria preciso tentar? Estou em chamas, puramente fogo. E quando se mistura vento e fogo temos uma forma inimaginável, um desalento forte, uma catastrófica vontade, um infinito terminável. Acabo de quebrar todos os copos, todas as luzes e todos os ossos. Acabo de quebrar um por um desses ossos que só me pesam, sem sustentar. Sinto ainda a energia que grita, que pulsa, que te leva pra longe, que me traz pra perto, que nos leva longe e que te prende junto, em comunhão. Sem amor, sem glórias, sem asas que me façam pular sem medo no precipício. Os meus olhos são pardos como a noite parda, como aquilo que não se pode reconstruir, como tudo aquilo que, talvez, eu devesse ter destruído pra sempre. Como eu mesmo disse que seria, como eu mesmo fiz com todo esse vento que me preenche, como eu mesmo quis... E enquanto eu ouvia os carros na cidade e via, ainda mais longe, as luzes que brilhavam dos prédios envolvidos pela noite escura, e imaginava aquela imensidão sem fim, e sentia, por momentos curtos, o vento envolvente tomar meu rosto, eu pude ver, com os verdadeiros olhos que me foram dados. Acho que, naquela hora, descobri o sentido da vida, e, mesmo assim, acho que ela não faz sentido algum. Sentido algum...

PONTO!