quinta-feira, 11 de novembro de 2010

- Dor.

- Inexplicável como um homem precisa parar toda a sua vida e reorganizar suas forças para cobrar o que é impossível entender. Indexável é pensar que por mais forte que você seja o fardo só tende a aumentar e a força a ir se afunilando dentre todos esses farrapos, dentre todos esses recomeços e recaminhos. Hoje o céu parece infundável, em crise, com milhares de estrelas em colapso, formando figuras sem fundamento, sem cabimento, sem sentimento. E eu estou aqui, parado, olhando com o mesmo olhar, que parece nunca mudar. Talvez todos os meus erros sejam os meus espinhos, dentro de um coração cheio de esperança e garra que carrega em uma sobreponta inseguranças e medos. Inseguranças absurdas, incontáveis e sufocantes. Inseguranças tão inseguras de si que precisam do meu apoio para continuarem existindo e, eu, sem intenções, construo-as palavra por palavra, frio por frio, dor por dor. É quando qualquer música te remete a única coisa que pareceu te fazer vivo depois da morte. É quando qualquer almoço em qualquer restaurante barato te faz lembrar dos risos e bobagens com comida. É quando, nem mesmo bêbado, você consegue esquecer aquilo que te assombra. E vai te assombrar até sabe-se lá quando. É quando você se abaixa e não quer mais se levantar. E tudo isso depende de você. Pelo menos todos dizem que levantar todo esse peso e continuar caminhando é o que se deve fazer. Mas, e se você quiser parar? E se você quiser ficar apenas onde está? As coisas não podem simplesmente continuar sem você? Não podem se reconstruir sozinhas? E você para. E o mundo continua girando, as flores continuam lá para todos os apaixonados, os beijos, o sexo, o carinho, a dor, o prazer e o caminho... E você parado, como sempre deveria ter ficado, entendendo que muita coisa não pertence a você e que não faz diferença se você continua ou não, porque, no fim, as pessoas continuam sem você. E o seu caminho nem brilha mais. Você continua caminhando por espasmos, com os pés dilacerados e cansados e sem apoio. Sem nada. Mas isso já devia fazer parte do seu costume. Você nunca teve nada e, talvez, nunca terá. Embora você ainda guarde um ponto de esperança, você percebe que ela diminui a cada dia. E seu corpo nem responde mais, sua respiração se torna mais ofegante, seu rosto se mostra pálido e com marcas fundas de um sofrimento constante. E tudo isso parece não passar. E não se sabe se passará. Você só pode continuar se arrastando. Vivendo aos cantos de um quarto vazio e frio, enquanto o único que tem algo pra mostrar está lá fora. E parece que não vai mudar. Sim, parece...

PONTO!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

- Lembranças

- Sou isso, um amontoado de lembranças. Ridículo, imprevisível e sem rumo. Não posso querer ser mais do que isso ou caminhar contra o que me foi escrito. Está escrito o que está escrito e eu só devo seguir a linha. Todas as vezes em que desentranho esses pensamentos infâmes e vis, nada mais posso fazer além de admirar a velocidade em que as coisas vem e vão. Hoje, enquanto penso novamente em quão nada posso ser, em quão tudo tem que ser de formas diferentes para pessoas diferentes, enquanto o botão de rosa não florece, enquanto tantas coisas que inúmeras seriam aqui. Quem está na chuva fria sou eu. Quem ainda vê os relâmpagos e ouve os trovões sou eu! Quem ainda não entendeu sou eu. Por todos os dias eu rezo para que se emancipe de mim as letras para que curem e cicatrizem os momentos não consumados. Espero, pelas letras, costurar os retalhos e remendar os buracos, amenizar as dores e a consciência. Um poeta não é poeta porque quer, é poeta porque sofre. É na sofreguidão que lhe vem as idéias, que lhe vem as formas de alivar esse mundo. Ele infla, desincha, empenha. Ele se desmonta em quatrocentos pedaços e tenta entender o que acontece, mas ele não entende. E ninguém nunca vai. Amaldiçoados os que nasceram com o dom de pensar, o dom de querer descobrir. Amaldiçoados os que querem ser felizes, porque pra esses restarão apenas as esperanças. Amaldiçoados os que montam suas lembranças e essas lhes prendem, como correntes quentes, a tudo aquilo que desejam esquecer. Amaldiçoados. Somos todos nós, poetas.


PONTO!