domingo, 25 de dezembro de 2011

- Mente.

- E nessa noite tudo o que eu posso ver é uma luz quente que envolve o quarto, me afastando por algum tempo de todas as sombras que insistem em bater à porta. A visão da cidade alta que acomete os breves momentos de nostalgia se mostra presente e a alma parece permanecer lá, abandonando um corpo um tanto quanto esgotado pelo medo. É como se a pele saltasse para algum lugar distante, algum lugar intocável, e logo após fosse arrastada de volta ao chão. Pregos se cravam nos pés, pregos se cravam nos ombros e espinhos rasgam os músculos. As mãos desesperadas de quem não tinha o que sofrer, agora salientam o sabor de mais uma noite insone. E o céu, obsoleto em sua observação, só faz piscar mais uma de suas estrelas, buscando de forma irrelevante destinar esperança para os não alentos, buscando desatrelar tudo aquilo que foi unificado. É muito tarde para chamar por alguém agora, talvez alguém que já houvesse se importado, é muito tarde para gritar, chorar ou reclamar. É hora de ficar em silêncio... No silêncio da noite. No silêncio do vento da noite.


PONTO!

sábado, 12 de novembro de 2011

- Pra mim.


- E o mundo girou. Não há nada aqui pra te fazer sentir bem ou mal. Não há nada aqui para nenhuma coisa. O verde se desbotou em um tom pálido, esquálido, inválido. O ar que antes pesava, nem pesa mais. E quando não há outra chance, nem tempo de acordar rápido, muito menos para se sentir aquecido, o mundo gira. E você é como uma vela em meio a um tornado, talvez uma foto sem o foco certo, algo inconformado, deformado para uma realidade a qual não pertence com certeza. Tudo o que se sabe é que a chuva faz falta. O cheiro da liberdade forçada é tão forte que só a chuva consegue amenizar. Nem o Vento o faz. O Vento só voa, intrépido, para algum lugar que nem ele sabe qual. O Vento só voa...

PONTO!

sábado, 8 de outubro de 2011

-

- A pergunta ainda é a mesma daquela feita por este poeta quando o mundo resolveu parar. As lágrimas que madrugam insistem em me visitar a cada noite de cada tempo e, a cada escuridão que a terra traz, elas insistem em brilhar escondidas no fundo mais enfurecido do desespero... Do desespero de viver. O hálito longínquo do vinho barato não é mais tão assustador, muito menos a fria sensação de solidão, vasta como uma estrada vazia em uma noite vadia, em qualquer espaço de imensidão. Hoje eu sei, que talvez, os meus braços não possam segurar tanto quanto eu queria. E, hoje eu sei, que talvez, as minhas pernas não carreguem nada a mais que lembranças, que descasos, que minha parte inteira... E que, talvez, eu seja apenas vento, como aqueles que passam desapercebidos, mas que de tão suaves marcam a pele e levam um pouco de alma. E sentir-se assim, com essa pura liberdade crua, com essa grande inconstância e enfermidade, com esse peso e essa leve sensação de prazer, traz ao vento o que ninguém nunca imagina. E ele venta, e venta. Cada vez mais tímido, cada vez mais fraco, cada vez menos entusiasmado... Mas venta. E é no ventar que ele é diferente. O vento se difere ao ventar. O vento vive ao ventar...

PONTO!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

- Um pequeno pedaço de monstro...

- Fez-me algo como um objeto, como uma construção que eu não mais alimentava. Instigou os olhos, molhou o coração e enxarcou todas as idéias conturbadas de mundo, de ventos. Longe de tantos, perto de um único. Íntrinseco como um pequeno vinho em uma garrafa, ou um chocolate que se derreteu pelo caminho. Perto como um animal não muito sonoro, quase estático. E enquanto a luz entrava, e os cantos escuros se iluminavam, e os medos se partiam, e os pés pisavam com mais intensidade. E quando o fôlego já não era mais único, mas sim dividido. E quando tudo continuou... Enquanto a chuva caia e o rosto era lavado, os pulmões quase não respiravam e o mundo caminhava ao longo de uma estrada tão finita, olhos azuis como o meu coração transpuseram meus direitos. Olhos azuis como a chuva, voaram com o vento, criaram com o vento, e ventaram. E as palavras que com o vento voaram, criaram orvalho, criaram medo, criaram harmonia. E o que eu posso fazer é guardar um pouco dessa chuva, pra molhar o coração quando ele quiser secar. E, por enquanto, até que uma longa tempestade caia e me faça caminhar pelo desconhecido, por uma vida cheia de novas gotas e raios, é o que consigo fazer... Eu só posso guardar a água dessa chuva.

PONTO!

sábado, 23 de julho de 2011

- Ode ao lado escuro da lua!


- No fundo eu sei que já posso morrer! Não morrer porque quero que minha vida cesse, ou que meus dias aqui acabem, mas sim porque seria egoísta de minha parte viver mais do que já vivi, ver mais do que, em toda minha vida, sei que muitos não chegaram a ver. Eu tenho, como qualquer um, momentos de devaneios incertos, de ódios intermináveis, de medos tremendos e, quando me agarro a um desses pecados por mim cometidos, penso no quanto injusto eu sou por me privar de tudo aquilo que me foi ofertado. O lado escuro da lua pertence a mim também. Não sei o quão amargo seria dizer que esse lado obscuro sou eu por completo, que se ilumina por alguns sóis presentes nessa atmosfera esquisita, nesse universo imperfeito, nesse mundo com características somente atribuidas por mim. Não sei o quão monstruoso é demonstrar a face mal feita, o veneno que não escorre todos os dias, com todo o contorno de uma bela figura, um belo desastre, um belo desconserto. O ar que pesava antigamente, hoje nem efeito faz mais. O medo que antes a janela deixava voar, hoje é aumentado pela imensidão de toda a existência. A dor, o cansaço e o distúrbio se prendem e se desmontam face a face com a minha desistência. Uma desistência silente, remota e insensível, que gela meu coração e destrói o meu corpo aos poucos. Uma desistência que me toma como se eu já não pudesse mais tomar conta de mim, como se eu tivesse deixado, em todos os cantos desse mundo em que estive, uma parte desse estranho monólogo de tantas pessoas. No fim, o lado escuro da lua nem é tão mais frio que o outro e não deixa de ser menos conflitante. O lado escuro da lua se destrói com qualquer simples atenção, se destrói por não pertencer aos que não conseguem vê-lo, se destrói por não ser tão perfeito quanto o lado iluminado. O lado escuro da lua, aquele que ninguém consegue enxergar com perfeição, sou eu!

PONTO!

terça-feira, 17 de maio de 2011

- Esse, talvez, não seja o fim.


- Meu coração nunca foi puro. Minha mente talvez nunca tivesse deixado que ele chegasse perto dessa alcova. E eu sinto que o tempo está passando muito mais rápido do que eu. Como se eu estivesse trancado em uma caixa, desejando rever o sol, mas com os desencontros de uma criança. E hoje, ainda, o ar não me basta mais. E é mais do que engraçado quando o ar não basta, porque os pulmões se enchem de nada, assim como as suas idéias. Você perde a memória, e não encontra nada nas lembranças que deviam te manter acordado. "Acorde sua alma!" é o que você pensa, e acha que é o que pode pensar, mas, a cada dia que vai, a cada noite que some num céu um pouco mais claro, e cinza, a sua alma repousa perdida em algum lugar. Eu sei que, em todos os sonhos com estradas chuvosas e bem estares súbitos enxergando velhos e novos mundos eu posso encontrar uma casa, pelo menos nesses sonhos. Eu posso sonhar com isso tudo, agora e sempre, mas eu não posso voltar pra alguma casa de novo. Não, não posso!

domingo, 15 de maio de 2011

- Anjos choram, silenciosamente, todas as noites.


- Uma sirene distante ecoa nas paredes frias dessa noite, quieta e calma, e eu imagino quando será a minha vez, quando será que, por frações de segundo, eu mudarei o mundo com uma fragilidade imensa e um desejo no fim. Eu descobri que anjos choram, silenciosamente, todas as noites, mas que quase ninguém os ouve, porque, no fim, todos dormem enquanto eu acordo. Todos dormem enquanto eu, ainda, continuo aqui. Os olhos são os mesmos, os pensamentos nem sabem-se mais que ou quem são, só pensam se sabem algo além do que sabiam. Os olhos ardem, a boca seca, o coração não dispara mais. O medo não fragiliza, a coragem não enobrece, a vontade desaparece. E no meio da noite anjos continuam chorando, clamando para que, em algum momento, as preces deles sejam ouvidas... Clamando para que, em algum momento, cesse a dor de todos aqueles a quem os anjos guardam, e resguardam do mundo. Essa noite eu me mantive acordado mais uma vez, construindo e destruindo tudo aquilo que eu sempre construi e reconstrui. Hoje me mantiva acordado mais uma vez para destruir mais do que amenizar, talvez porque eu sempre pense que minhas paredes estão podres e precisam de reformas, e estruturas novas, e alicerces novos, e passagens novas e, e... E por ter me mantido acordado por mais uma noite, em claro, e por destruir minhas paredes, mais uma vez, vazias, cheguei mais próximo daqueles frágeis anjos da noite, daqueles que choram, calados em seu canto, com lágrimas de lua, sorrisos de sol, temperanças de chuva. Cheguei mais perto daqueles que me compreendem. Cheguei mais próximo de mim... E preferi me manter lá, pra sempre. E sempre...

PONTO!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

- Perfeição.


- Mais uma vez, mais uma noite, mais uma vez todas as coisas. É como se tudo se prendesse de uma ponta a outra e você sentisse aquela sensação que nunca consegue explicar a ninguém. Periódicamente dói, dilacera, estraçalha e você não consegue manter a força. Você se crucifica e remaneja tudo o que não precisa. E quando vê já remanejou até o que não devia. Hoje você olha pra um espelho embaçado, escreve palavras insossas para amenizar tudo o que se perdeu. Hoje você se lembra de pedaços de memórias que talvez nunca tenham pertencido a você e, talvez, você nunca tenha tido memórias pra guardar, apenas desconstruções de planos imperfeitos feitos apenas por você. Você está só, como sempre esteve e nunca entende porque a necessidade de ter alguém ao seu lado, que seja seu amigo, seu irmão, sua cria. Leve minhas vísceras malditas ao inferno, porque lá deve ser melhor do que o longo caminho que se sinta. Leve minhas vísceras expostas ao nada, ao abismo, ao infito desbunde. Hoje, não mais do que hoje, muito menos amanhã, os abraços não fazem mais sentido, não fazem mais tranquilidade. Hoje, não mais do que hoje, os amigos se tornam inimigos, as desavenças se tornam rumores e sua vida se torna nada. Ou talvez, nem se tornou algo, apenas nunac foi. Hoje, não mais do que hoje, a perfeição foi jogada por todas as pessoas em cima dos seus ombros, e, isso, você não precisa e, talvez, nem seja capaz de aguentar.

PONTO!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Aceitação.


- Essa tela branca que me consome todos os dias, que me borda de todos os jeitos que eu sempre componho e recomponho, com todas as cores esquisitas e frias, com todas as coisas esquecidas, com todas as pinturas que foram deixadas de lado. Hoje eu escolhi não ser menos do que eu sou, hoje eu escolhi não deixar de olhar pra tudo o que já se foi e sorrir, sorrir pra dor, sorrir pro medo, pra frieza das palavras, pro choque das decepções. Hoje eu decidi sorrir porque eu sempre soube como o meu destino estava selado à isso. Me sinto de volta ao corpo, não com todos os anos que me consumiram, mas com todas as simplicidades que quis ter. Hoje me sinto pronto, com muito no coração, mas pronto. Hoje eu começo a partir mais uma vez, pra uma última viagem, pra uma última conexão com o que hoje eu conheço. O desconhecido me espera novamente, sempre foi assim. Alguém sem raízes, alguém sem galhos, ramos ou folhas. Alguém completamente nú, em carne crua, pedra bruta, descascado, desapropriado como sempre. Hoje eu não me sentirei menos do que eu sou, hoje eu lembrarei de tudo e me sentirei bem. Hoje não ligarei em ser repetitivo, e espero que o seja, pois talvez assim as pessoas entendam como são hipócritas e fúteis, quando perdem coisas que amam por pensarem em imagens, em coisas que precisam fazer. Esquecer de ser feliz e procurar felicidade em coisas menores. É, vocês não fazem isso certo. Agora eu entendo, e agora estou pronto. Sim, agora estou pronto!